Sobre Vizella na Revista Universal Lisbonense

Numa ronda por documentos antigos descobri uma interessante referência aos banhos das Caldas de Vizella na Revista Universal Lisbonense, na sua publicação de 1844/1845.

O artigo é assinado por J. J da Silva Pereira e datado de 12 de Abril de 1845. Nele se refere a descoberta de 2 novos banhos a 24 de Março do corrente ano, debaixo da varanda do edifício denominado «hospital». Diz o autor que são dois soberbos banhos tanto pela dimensão, como pela construção marchetada, são dois monumentos dignos de toda a estima com que as caldas são enriquecidas e que terão sido mandados construir por Tito Flávio Archelau Claudino. Com estes novos banhos as Caldas de Vizella ficam agora com 27 nascentes termais sulfurosas com diversas temperaturas, sendo 3 acomodadas ao uso de bebida, 21 ao uso de banhos e 3 de emborcação.

Na freguesia de S. Miguel, no lugar da Lameira ficam o banho do Moreira (88ºF), o banho do quarto crescente (90ºF), o banho da lua nova (87ºF), o banho das quatro cabeças (98ºF), o banho contra-forte (102ºF), o banho da lua cheia (98,5ºF), o banho novo (100ºF), o banho oitavado (100ºF), o banho da meia lua (98ºF), o banho do ribeiro (104,5ºF), o banho grande (104ºF), o banho da humanidade (98ºF), o tanque das pipas (132ºF), o banho da bomba (119ºF), o banho de S. Miguel (119ºF), o banho do provedor (102ºF), o banho do sol (96ºF) e a bica da Lameira (134,5ºF) e no lugar de Valmenso fica o banho de Valmenso (77ºF). Na freguesia de S. João no lugar da Lameira fica o banho da Lameira (91,5ºF), no lugar do médico ou Azenha fica o banho do médico (93ºF), o banho da porta (87ºF) e o banho dos três amigos (84ºF) e no lugar do mourisco ou poço quente ficam o banho do mourisco (97ºF), o banho baixo (94ºF), a fonte do abade (82ºF) e banho do penedo (86,5ºF).

Na descrição dos novos tanques diz-se que são magníficos e que um deles fica a 2 palmos e 5 oitavos para Sul do banho da lua cheia, tem de comprimento 26 palmo e 6 oitavos, de largura 16 e 6 oitavos e de altura 4 e 6 oitavos. Nas cabeceiras de Norte e Sul tem 3 escadas cada com 1 palmo de largura que quase tomam toda a largura do banho. Para Leste tem um aqueduto de 2 palmos e 6 oitavos de largura o qual se acha dividido to tanque pela singular argamassa romana cuja qualidade se torna admirável por todas as circunstâncias. Este banho é todo marchetado de mosaico esbranquiçado. O segundo destes soberbos banhos, está na mesma direcção que o primeiro do qual dista uns 5 palmos. É oitavado, cada um dos lados tem 5 palmos e 4 oitavos e de altura tem 4 e 1 oitavo. O fundo é marchetado com xadrezes de 2 palmos e meio em quadro, sendo que todos imitam mármore branco finíssimo e dão bastantes provas do seu estado de deterioração dos muitos séculos que por eles têm passado. A Norte e Sul este tanque tem umas escadas análogas às do primeiro tanque.

Diz o autor que magoa ver que ao mesmo tempo que estes tanques mostram a magnificência dos Cesares romanos, nos patenteia com o elevado estado de ruína que os levara ao longo dos tempos e a grande incúria dos homens.

No mesmo artigo diz-se que não foi possível conhecer bem a totalidade das águas sulfurosas destes dois banhos cuja temperatura foi marcada por uma só vez, porque em parte ainda se achavam metidos debaixo do já referido edifício, cuja demolição o bem público ardentemente demanda conforme expusemos em 12 de Julho de 1842 à Câmara Municipal de Guimarães em cumprimento do patriótico ofício em que nos pedia uma indicação de todos os melhoramentos que estes banhos precisavam. Também diz que os vizelenses esperam ajuda da sua câmara municipal para poderem pôr estes banhos em uso público e puderem ser utilizados brevemente.

Ainda se escreve que se fazem votos para que a Câmara de Guimarães mande proceder imediatamente a uma escavação regular e bem dirigida, aparoveitando todos os restos de colunas, aquedutos e maravilhosas construções de tijolo e argamassa, os quais quase todos os dias se têm desprezado nas Caldas de Vizella e que só talvez tivessem sido bem avaliados na escavação feita em 1788 e 1789 (que neste blog fizemos referência em anterior artigo) pelo vimaranense José Diogo Mascarenhas Neto. No mesmo artigo também se diz que estes banhos que depois de frequentadas pelos romanos, também foram frequentadas em 1014 por D. Afonso V, Rei de Leão, e sua esposa D. Geloira.

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