Retrospectiva - Bruce Guimaraens
Bruce
Guimaraens Por
Jorge Miranda 2002/12/23 (PUBLICADO NO NOTÍCIAS DE VIZELA)
Na edição de 24 de Agosto de 2002 do «Público» vinha publicada uma fotografia, que de imediato deteve o meu desfolhar. Nela aparece um senhor de pose distinta, sentado a uma mesa, numa sala de tom clássico, a beber, pausadamente, um cálice de Vinho do Porto. A parede mostra um retrato, que ao olhar me pareceu familiar. Na verdade foi esse retrato que voltou a minha atenção para o título do artigo: “ Vinho do Porto perde Bruce Guimaraens”.
O senhor
do retrato trata-se de William Wilby, antigo proprietário do
conhecido Chalé do Inglês. O homem do cálice de Porto é Bruce
Duncan Guimaraens, do qual o «Público», dá
conhecimento da sua morte a 23 de Agosto de 2002. Bruce era neto de
Manoel Pedro Guimaraens, autor de a “Rita Portuguesa”, publicado
na Inglaterra. Este livrinho, o qual foi traduzido e editado em
português pela Dra. Maria José Pacheco, relata as férias do autor,
em Vizela, em casa de William Wilby, avô da sua esposa, Grace
Gordon.
De Bruce Duncan Guimaraens, o «Público» diz
que se tratava de um homem muito culto, de personalidade cativante e
que, os seus conhecimentos salientavam o seu humor refinado, de toque
“very british”, e a sua alegria de viver. No curiculum de Bruce
constam mais de 50 vindimas e alguns dos mais importantes Vinhos do
Porto Vintage. Entre 1961 e 1992 dirigiu a empresa Fonseca
Guimaraens, a qual já havia sido dirigida pelo seu avô Manoel
Pedro. No entanto, a empresa foi fundada em 1822, por um seu
antecessor, também de nome Manoel Pedro Guimaraens. Este último
nutria uma simpatia pela causa liberal, tendo sido obrigado a fugir
para Londres escondido numa pipa de vinho, de onde passou a comandar
a Fonseca Guimaraens.
Aproveito a deixa deste
pequeníssimo naco de património da nossa terra, para remeter este
artigo para a discussão: o que foi, e o que é a Cidade de
Vizela.
Em finais do século XIX e inicio
do século XX, Caldas de Vizela era uma terra capaz de cativar as
mais altas personalidades, como Manoel Pedro Guimaraens ou Camilo
Castelo Branco. Na nossa terra encontravam a mais completa
simplicidade na hospitalidade dos vizelenses, a pureza das paisagens
rurais minhotas, as águas murmurosas do Rio Vizela e a saúde das
cálidas águas termais. Manoel Pedro Guimaraes escreveu:
« E lá fomos por uma rua de Vizela, com o querido «até logo!»
tagarelado pela Rita ressoando nos ouvidos. Continuamos ao longo das
veredas, onde as videiras se entrelaçavam e de árvore em árvore,
formavam uma parede viva de cada lado.»
Já
Camilo Castelo Branco:
«...atravessámos o Vizela... Trinavam ainda os rouxinóis nas
margens frondosas do rio, e ao longe assobiavam melros e grasnavam as
pegas nos pinheirais. A corrente murmurosa trapejava nas franças dos
amieiros debruçados à flor da água. Daí ladeamos o banho
Mourisco.»
Uma centena de
anos depois restam memórias que fazem parte do nosso património.
Resta também a esperança ténue do resplandecer de uma nova cidade
inspirada na nossa cultura, na cultura da água, na cultura minhota,
nas raízes romanas e acima de tudo no bom coração dos vizelenses.
Que faz a Vizela de hoje, para que daqui a 100 anos volte a merecer o
carinho de outros ilustres do mundo?
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