Retrospectiva - Cidade d'Água


Por Jorge Miranda (em 14 de Julho de 1999) - publicado no site já extinto Oculis Calidarum

Caldas de Vizela é como o nosso corpo, 80% da sua constituição é água.
Temos o Rio Vizela, que atravessa esta cidade quase pelo centro. Embora hoje as suas águas exibam as mais variadas cores, em tempos ainda não muito distantes, estas águas eram límpidas. Não me posso deixar de recordar dos maravilhosos banhos de rio, na minha infância e primeira adolescência. Em geral, estes banhos aconteciam acima de Lagoas, junto da Ponte Velha, no, creio que, chamado Poço da Lamela. Nas tardes de verão, locais como este eram inundados de gente provocando um verdadeiro chinfrim, comparável com o chilrear dos pardais. Um outro local muito concorrido, era a Ilha dos Amores, em Lagoas. Este era um lugar mítico, a começar pelo próprio nome. Eram verdadeiras multidões que vinham à Ilha dos Amores, para mergulhar no Vizela, ou simplesmente namorar.

Hoje o rio está morto. Porém, vislumbra-se uma esperança com o sistema de despoluição do Ave, que também contempla o Vizela. As obras estão em curso, e com elas espera-se que a"moçarada" volte para o rio. Será?
A cidade precisa de crescer voltada para o rio. Seria bem vindo uma "mini ribeira" junto à ponte romana. Por outro lado é preciso eliminar as recordações da "revolução industrial". Ao parque das termas, por exemplo, não lhe ficaria nada mal, um pulo até à outra margem. Não digo ampliar o actual parque, mas antes criar uma ligação pedonal à outra margem onde deveria nascer uma nova área de lazer e cultura de arquitectura moderna. Não nos podemos esquecer de ligar a zona dos parques à Cascalheira e ao actual Park Club.

Agora reparem, as sextas ou sábados à noite poderiam começar em simpáticos bares na ponte romana, depois seria um saltinho ao parque das termas e à outra margem onde se poderiam assistir a actividades culturais, digo, música ao vivo, teatro, ou mesmo exposições. A noite poderia terminar com um grupo de amigos no Park Club. E tudo isto na margem do rio Vizela em percurso pedonal. Digam lá, se as noites em Vizela não valeriam a pena?
Em Vizela não existe apenas água doce, temos também água sulfurosa, a água das termas. Quanto à actividade termal em si não vejo nada que se aponte, até porque nos últimos anos a empresa que gere esta actividade tem vindo a dinamizar os seus espaços aquíferos, bem com o Hotel Sul Americano. Seja como for, não seria má ideia "pressionar" esta empresa a trabalhar em consonância com o poder local, de maneira a "vestir" Caldas de Vizela como cidade termal. A praça da Republica que é o por excelência o centro da cidade, está despida de toda esta dinâmica. A um canto fica a Bica Quente, que segundo a tradição, quem lá meter o dedo fica em Vizela para sempre, perdendo a oportunidade de se valorizar como "logotipo" da cidade. A par disto a Praça está completamente descaracterizada. O cimento contrasta com a sua alcunha de Lameira. É também sabido que neste local se centrava a actividade romana, por aqui se encontrarem um grande número de fontes de água quente. A titulo de exemplo aponto a rua dos Caquinhos em Guimarães, onde para preservar umas condutas subterrâneas, se colocaram placas transparentes, de maneira que quem lá passa possa apreciar o interior das condutas, sem que ao mesmo tempo as danifique.

Mais do que ter bons carros e casas de luxo, isto sim, é qualidade de vida. E é por todas estas razões que Caldas de Vizela reúne condições para ser uma cidade "topo de gama" nesta matéria. Se Oculis Calidarum conseguir mostrar isso quer aos habitantes de Vizela, quer aos seus visitantes, então a sua missão está cumprida.




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