As Indústrias de Papel do Vale do Vizela e as suas Personagens (XII)

8.2 - Os Moreira de Sá –do século XIII ao século XXI

8.2.1 - Os ancestrais

Francisco Joaquim Moreira de Sá tem origens familiares conhecidas que remontam ao século XIII. Fernando Moreira de Sá Monteiro tem-se notabilizado na pesquisa dos seus ancestrais e distancia-se dos genealogistas tradicionais no que diz respeito a Rodrigues Anes de Sá e ao casamento com Giulia Colonna filha de um senador romano. O próprio Fernando Moreira de Sá Monteiro afirma no fórum do Geneall:

“O "caso" do "pretenso" casamento de Giulia (ou Cecilia) Colonna com Rodrigo Anes de Sá, foi um dos que maior polémica me arranjou com o falecido D. Luiz Gonzaga de Lancastre e Távora, Marquês de Abrantes e Fontes, a cuja memória me curvo respeitosamente.
Não acredito muito nesse casamento, confesso. Pelo menos, nos moldes que é descrito pelos nobiliaristas desde o séc. XVI.”

Em «Sás – Subsídios para uma Genealogia» o já referido investigador afirma que tendo-se dedicado mais longamente ao estudo dos mais antigos Sás, descobriu imprecisões e dados novos que o fazem diferir do que até então se tinha escrito. O estudo começa em João Afonso de Sá, filho bastardo de Afonso Anes de Voiere, Abade de Lousada e Maria Peres,mulher solteira e que foi legitimado em 3 de Maio de 1315 pelo rei D. Dinis. João Afonso de Sá terá sido Vassalo dos reis D. Dinis, D. Afonso IV e D. Pedro I e era senhor das quintas de Sá no termo de Guimarães e de Gemunde. Terá sido casado com Maria Martins filha do senhor da quinta do Paço Velho no julgado da Feira. Há porém genealogistas que o fazem casado com Teresa Rodrigues de Berredo. Fernando Moreira de Sá Monteiro sustenta a sua tese num documento entre Rodrigues Annes de Sá e sua sobrinha Beatriz Aires, no qual esta cede em 1379 a Quinta de Sá ao seu tio. No documento é dito que Rodrigues Anes de Sá é Senhorinha de Anes de Sá são filhos de João Afonso de Sá e Maria Martins. A Quinta de Sá ficou para Senhorinha Anes de Sá em dote de casamento com Aires do Vale. É depois a filha destes, Beatriz Aires, monja no Convento de Arouca que conforme já dito devolve a quinta ao seu tio Rodrigues Anes de Sá.

Rodrigues Anes de Sá foi Cavaleiro Alcaide-mor de Gaia, Senhor dos direitos reais e rendas de Gaia e seu termo, de Vila a-par-de Gaia e seu termo, em pagamento de sua quantia para servir El-Rei com certas lanças (1373), Padroeiro de S. Miguel de Gemunde, Embaixador do Rei D. Fernando a Roma ao Papa Gregório XI, Senhor da Quinta de Sá, de Gemundo e de Drizes (concelho de Lafões), herdeiro universal do seu escudeiro Pedro Esteves do Avelar. Rodrigues Anes de Sá casou em primeiras núpcias com Mécia Rodrigues do Avelar.

Os casamentos de Rodrigues Anes de Sá são o tema central de discussão entre os antigos genealistas e a linha seguida por Fernando Moreira de Sá Monteiro. No livro dos Nobiliários de Felgueiras Gaio Rodrigues Anes de Sá foi casado com Giulia Colonna, romana filha de um senador e prima(?), sobrinha (?) ou irmã(?) de Agapito Colonna nomeado Bispo de Lisboa entre 1371 e 1380. Este Bispo foi 3º avô de Otto Colonna que foi Papa com o nome de Martinho V. Nos Nobiliários o casamento com Colonna aconteceu pelo facto de Rodrigues Anes de Sá ter permanecido em Roma como embaixador. Esta versão é confirmada por Sá de Miranda descendente da família e que viveu entre 1481 e 1558, e que se vangloria das suas boas relações com os primos Colonna. Sabe-se da sua biografia que partiu para Roma em 1521 tendo lá vivido até 1526 e lá se dava com a prima Vitória Colonna, marquesa de Pescara, poetisa de Itália e uma das mais notáveis mulheres quinhentistas que por sua vez foi uma das paixões de Michelangelo o qual lhe escreveu vários poemas. A família Sá de Miranda (Sás de Coimbra) usa na sua heráldica a coluna dourada dos Colonna, porém Fernando Moreira de Sá Monteiro diz que isso só aconteceu a partir do século XVI após os Nobiliários.

Segundo a nossa fonte Rodrigues Anes de Sá foi casado com Mécia Rodrigues de Avelar da qual teve João Rodrigues de Sá e Paio Rodrigues de Sá. O mesmo Rodrigues foi casado em segundas núpcias com Beringeira Anes da qual teve 3 filhos, Aldonça Rodrigues de Sá, Constança Rodrigues de Sá, que casou com o descobridor e povoador da Madeira, João Gonçalves Zarco e Gonçalo Anes de Sá.

Fernando Moreira de Sá Monteiro em 2003 no fórum Geneall diz então que Rodrigues Anes de Sá e Mécia já estariam casados em 1349 e que seria viúvo dela desde pelo menos 1367. O mesmo investigador admite que a haver alguma relação entre Rodrigues Anes de Sá e Giulia Colunna esta terá ocorrido muito perto do fim da vida e que não terá deixado descendentes. Sustenta que o Papa Gregório XI foi eleito em 1370/71 regressando a Roma em 1377 e faleceu no ano seguinte, tendo tido antes longa estadia em Avinhão, França. Ficamos assim com apenas intervalo de um ano para que Rodrigues Annes de Sá fosse a Roma e viesse a conhecer Giulia. Mas Fernando Moreira de Sá Monteiro adianta nova possibilidade a de que Rodrigues Annes de Sá possa ter ido a Avinhão entre 1372 e 75 conseguindo que Agapito Colonna finalmente a vir para a sede do seu bispado em Lisboa e terá sido nessas circunstâncias que a relação tenha nascido. Em todo o caso não terá havido descendência.

Há ainda uma outra versão, a de que houve dois Rodrigues Anes de Sá sendo que o primeiro casou com Mécia Rodrigues de Sá e tiveram um filho chamado de Payo Rodrigues de Sá. Este último não lhe é registado casamento, porém terá tido um filho de nome João Afonso de Sá que terá vivido entre 1291 e 1357. É dito que João Afonso de Sá é proprietário da Quinta de Sá nas proximidades de Guimarães e que Sá deriva de solar. Este casou com Teresa Rodrigues de Berredo e que tiveram um filho chamado Rodrigues Anes de Sá e uma filha Senhorinha de Sá. Este Rodrigues é apontado como o que casou com Giulia Colonna. A partir deste momento, nesta versão perde-se a sequência da linhagem dos Sá pois segue-se a indicação de uma filha Constanza Rodrigues de Sá casada com João Gonçalves Zarco descobridor e povoador da ilha da Madeira (1419 - 1420).

Não pretendemos entrar nestas discussão mas o casamento com Giulia Colonna levanta discussões em outras linhas de investigação nomeadamente no que à nacionalidade de Cristovão Colombo diz respeito por se acreditar que Colombo é o aportuguesamento do Collona.

João Rodrigues de Sá, filho de Rodrigues Anes de Sá, Camareiro-mor do rei D. João I e embaixador ao papa Bonifácio IX. Acompanhou D. João I nas expedições militares de do cerco de Lisboa, Aljubarrota e Ceuta. No cerco de Lisboa libertou uma galé apresada pelos Castelhanos tendo recebido 15 feridas no corpo e 2 na cara e fê-lo com uma só lança. Por esta acto de bravura ficou conhecido como «o das Galés». Foi também o primeiro a entrar na Vila de Guimarães na conquista da mesma. Morreu em 1425. Foi casado com Isabel Pacheco e tiveram Fernão de Sá, Gonçalo de Sá, Gomes de Sá, João Rodrigues de Sá e Mécia Rodrigues. Teve ainda bastardos, Guiomar de Sá e Rodrigo Anes de Sá. Este último teve uma filha de nome Filipa de Sá que casou com João Gonçalves de Miranda e daqui descendem os Sá de Miranda aos quais já fizemos referência.


Os nomes, casamentos, descendentes e altos cargos nobiliáticos sucedem-se até chegar a João Rodrigues de Sá, «o moço», e que entre muitos outros filhos teve um bastardo de nome Fernão de Sá que viveu em Guimarães e casou com Brites de Miranda, filha bastarda de Martim Afonso de Miranda. Destes terão descendido os Moreiras de Sá e Senhores da Quinta de Sá em Santa Eulália de Barrosas, hoje Santa Eulália de Vizela. Não pesquisamos outros elementos até chegar a Theresa Maria Borges Couto e Sá, avó materna de Francisco Joaquim Moreira de Sá, a qual por acordo pré-nupcial celebrado em 10 de Março de 1746 (em notas do tabelião Paulo Mendes Brandão, da vila de Guimarães) e na qualidade de tutora da filha Eduarda Catarina, entretanto órfã, acerta o casamento desta com Francisco Moreira Carneiro, Capitão-mor em Minas Gerais. O noivo entra com 27 mil cruzados para a quinta de Sá justificando-os com a utilidade do casamento com Eduarda Catarina por ser de bom sangue. Em contra-partida a noiva seria dotada com a quinta de Sá, constituída por três prazos de vidas, foreiros ao Convento de Santa Marinha da Costa; o prazo das bouças da Silva Verde; fazenda do Requeixo, de natureza de prazo foreiro a Santa Marinha da Costa; o prazo de S. Domingos de Guimarães e o de S. Gonçalo de Amarante; a propriedade chamada das Queirozas, em Santo Estevão de Barrosas, dízima a Deus; a fazenda do Monte, de prazos de vidas foreiros à comenda de Santa Cristina de Serzedelo e S. Martinho de Sande; a fazenda do Pinheiro, com seu privilégio das Tábuas Vermelhas de Nossa Senhora da Oliveira; os moinhos do Esquerdo, de seis rodas, de natureza de prazo foreiro a S. Domingos de Guimarães. Consta ainda uma morada de casas de sobrado na rua Nova do Muro, duas no Toural e todas as que tinha na rua de Santa Luzia na vila de Guimarães.
(seguinte)

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