As Indústrias de Papel do Vale do Vizela e as suas Personagens (XIX)
8.2.3 -Os Sucessores do Francisco Joaquim Moreira de Sá
Por António Zeferino
Moreira de Sá, filho do primeiro casamento e que casou com Maria Gertrudes
Rebelo Peixoto Faria, nasceu Valentim Brandão Moreira de Sá. Este casou com Ana
Rita de Faria e Silva e tiveram Francisco Joaquim Moreira de Sá Brandão Sotomayor
e Menezes que foi Juiz de Direito em Cabeceiras de Basto. Este casou com a sua
prima Eduarda Emília Moreira de Sá que era filha de Miguel António Moreira de
Sá, filho do segundo casamento de Francisco Joaquim Moreira de Sá, uma facto
curioso este das duas linhas de descendência se unirem. Deste casamento nasceu
Bernardo Valentim Moreira de Sá em 14 de Fevereiro de 1853 em Guimarães, foi
distinto violinista, musicólogo, concertista e Director de orquestras e coros
orfeónicos, escritor e crítico de arte, professor de música, de matemática e de
línguas na Escola Normal do Porto. Continuando nesta linha descendente chegamos
a Bernardo Joaquim Moreira de Sá nascido em 1879, engenheiro a quem se deve a
barragem de Alcáçovas e falecido com apenas 40 anos e que casou com Maria
Cristina Rodrigues de Bastos Coutinho Beleza de Andrade. Ainda nesta linha de
descendência na actualidade chegamos a Rui Moreira de Sá e Guerra autor da obra
que nos inspirou para estes apontamentos, “A prioridade do Fabrico de Papel com
Pasta de Madeira na Quinta de Sá”. É também autor de “Bernardo Valentim Moreira
de Sá – Um Renovador da Cultura Musical no Porto” publicado em 1997 pela
Fundação Engenheiro António de Almeida, é ainda um estudioso de genealogia
tendo vindo a dedicar-se à família Beleza de Andrade e na Biblioteca Florbela
Espanca de Matosinhos encontram-se disponíveis diversas obras da sua autoria
sobre estudos seus no âmbito da história local de Matosinhos. Sobre Rui Moreira
de Sá e Guerra cabe-nos o dever de enaltecer tão prestável personalidade quando
numa já fase final destes nossos apontamentos o contactamos e amavelmente e sem
pretensões nos fez chegar prontamente importante documentação sobre o tema.
Regredindo novamente a
Bernardo Joaquim Moreira de Sá temos a sua irmã Leonilde Moreira de Sá que
casou com Luís Costa que foram os pais de Helena Moreira de Sá e Costa,
pianista nascida em 1913 e falecida em 2006 e que em 1935 terminou o curso
superior de piano no Conservatório Nacional com a nota máxima de 20 valores,
prosseguiu depois estudos em Paris e Berlim e realizou inúmeras digressões pela
Europa, América do Norte e do Sul onde actuou sozinha e em música de câmara.
Ficou na memória uma série de 15 concertos em Espanha em 1945 onde actuou com a
sua irmã violoncelista Madalena Moreira de Sá e Costa. Esta sua irmã nasceu
ainda vive com 97 anos e durante 50 anos fez dupla com a sua irmã. É ainda
desta linha de descendência que se chega a Fernando Moreira de Sá Monteiro
autor de «Sás
– Subsídios para uma Genealogia» e utilizador assíduo do forum Geneall e que
muito tem contribuído para o conhecimento desta família.
Voltamos atrás para nos
deter em Miguel António Moreira de Sá, filho de Francisco Joaquim Moreira de Sá
com a sua segunda mulher Ana Peregrina Pinto Carvalho Velho. Supomos que este
filho fosse ainda criança quando seus pais foram forçados a emigrar para o
Brasil e que este terá viajado com eles. Foi a ele que Francisco Joaquim
Moreira de Sá se referiu numa das suas cartas a António de Araújo Azevedo ao
dizer que ansiava voltar à Europa para dar educação ao seu poeta. Miguel
António Moreira de Sá, em 1828, serviu como oficial um batalhão de voluntários
constitucionais tendo por essa razão sido preso numa pequena cadeia existente
nas muralhas do castelo de Guimarães da qual se evadiu com mais cinco companheiros
descendo por estreita freta com auxílio de uma corda improvisada com tiras de
lençóis para o Largo do Cano. Teve depois que emigrar com a sua divisão para
Inglaterra para fugir à perseguições. Foi escritor notável em prosa e poesia.
Nos apontamentos do Padre António José Ferreira Caldas em “Guimarães
Apontamentos para a sua História” na sua 2ª edição em 1996 da responsabilidade
da Câmara Municipal de Guimarães e Sociedade Martins Sarmento, é dito que a
família guarda dele poesias impressas e manuscritas, entre as quais notáveis
cartas que escrevia à sua mulher quando se encontrava emigrado. Existe ainda um
manuscrito que narra os trabalhos durante o seu exílio e outro que intitulou
“História de D. João VI do seu Nascimento até à Morte”. Foi mais tarde para
Lisboa para tratar da educação dos filhos tendo sido convidado a redigir o
Nacional, jornal periódico de oposição ao governo. Morreu em Lisboa em 1836.
Miguel António Moreira de
Sá foi casado com Maria Bebiana Carvalho de Oliveira e foram pais de Eduarda
Moreira de Sá, cuja descendência já descrevemos por ter casado com o primo
Francisco Joaquim Moreira de Sá na linha de descendência do primeiro casamento
do seu avô, e de Ana poetisa Amália Moreira de Sá. Esta foi autora de “Rosa
Branca e Rosa Vermelha” e “Murmúrios do
Vizela”. Dela é também conhecida a troca de correspondência com o escritor
Camilo Castelo Branco. Nesta linha de descendência estão os actuais donos da
Casa de Sá dos quais apenas sabemos ser Victor Avelar casado com uma
descendente da família.
Os Sá de Vizela vêm assim
de uma velha linhagem carregada de personalidades de grandes feitos e êxitos
que conviveram sempre de muito perto com o poder e os decisores nacionais, mas que
também inovaram politicamente. Uma linhagem antiga que se renovou na relação
com as artes e ciência e que se estabeleceu em ambos os lados do Atlântico. Sobre
a importância dos Sá no Brasil destacamos a existência de uma rua em Campos,
Rio de Janeiro, rua Dr. Miguel Herédia de Sá. Herédia de Sá foi também o nome
de uma estação de comboio no Rio de Janeiro inaugurada em 15 de Fevereiro de
1908, entretanto desactivada e demolida. Também em Minas Gerais existe uma rua
de nome Rua Dimas Moreira de Sá que julgamos estar relacionado com esta
família. Para estes apontamentos tentamos estabelecer contacto com Santo
António de Rio Abaixo em Minas Gerais, apenas o conseguimos por Humberto
Catizani, funcionário do cartório local e proprietário de um hotel na cidade.
Deste contacto conseguimos apurar que o nome Moreira de Sá é muito comum na
região mas que nada sabem sobre a fazenda dos Moreira de Sá.
Ainda um episódio curioso
sobre os Moreira de Sá, desta feita por Francisco Joaquim Moreira de Sá empreendedor
da fábrica de papel, foi a sua curta passagem pela maçonaria e da qual se
auto-denunciou. O processo de 2 de Janeiro de 1792 do Santo Ofício encontra-se
arquivado na Torre do Tombo e chegou-nos por Rui Moreira de Sá e Guerra.
Certo dia em 1790
Francisco Joaquim Moreira de Sá foi levado durante a noite por Henrique Correia
de Vilhena a umas casas entre-muros da vila de Guimarães onde o deixou fechado
durante uma hora numa casa. Decorrido esse tempo apareceu um desconhecido
empunhando uma espada que o desarmou e o conduziu a outra casa. Aí ficou de
novo fechado até aparecer outro desconhecido que lhe entregou um papel e tinta
ordenando-lhe que escrevesse o que pensava da maçonaria. Francisco Joaquim
Moreira de Sá escreveu que tinha boa impressão pelo que lhe haviam dito e lido.
O desconhecido foi-se e voltaram outros armados que lhe tiraram a fivela, a
bolsa e a casaca. Ataram-lhe as mãos ao pescoço, vendaram-lhe os olhos e
levaram-no de um lado para o outro. Após isto destaparam-no e através de um
juramento exótico fizeram-no jurar não revelar os segredos da maçonaria que
consistiam nos sinais de reconhecimento entre eles. Foi-lhe dito que tinha o 1º
grau da maçonaria e entregaram-lhe um avental, espada e luvas. No final cearam
à custa dos novos membros e riram à custa deles. Outros acontecimentos depois
sucederam que o fizeram ter má impressão de tudo aquilo e por isso sempre se
recusou com afazeres para não comparecer às recepções. No processo do qual foi
absolvido perguntaram-lhe os inquisidores como era possível ele, réu, homem der
letras e conhecimentos ignorasse proibição e maldade daquela sociedade, ao que
respondeu ter feito profissão e estudado ramos diferentes daqueles que lhe
podiam prestar socorro para vir no conhecimento das Leis Eucarísticas.
Fernando de Sá Monteiro num
texto no blog Movimento de Unidade Democrática (movmum.wordpress.com) refere a
ligação de 2 antepassados antepassados seus à Maçonaria, o primeiro Francisco
Joaquim Moreira de Sá, que já sabemos e o segundo Bernardo Valentim Moreira de
Sá. Para este último Fernando de Sá Monteiro escreveu que a ligação maçónica
lhe proporcionou a e aproximação e conhecimento com grandes vultos da música.
Comentários