Quem não quer ser lobo…

A ética procura a distinção entre o bem e o mal, está por isso intrinsecamente relacionada com a moral. Se falarmos de ética aplicada a uma qualquer função profissional ou equiparada então entramos no domínio da deontologia. É comum em algumas actividades profissionais haver um código deontológico; jornalismo, advocacia, medicina, engenharia, enfermagem…

A deontologia procura garantir que qualquer profissional obrigado a obedecer a um código deontológico não ponha em causa a liberdade e os direitos dos outros colegas e da comunidade. Mas a deontologia ultrapassa o domínio do bem e do mal e procura assegurar a transparência. Assim o princípio é de que tudo o que causar dúvidas por falta de transparência não é permitido. Por isso o Código Deontológico dos Engenheiros, por exemplo, não permite que um engenheiro camarário assine projectos de particulares, nem tão pouco elabore os projectos e os entregue para serem assinados por outros colegas. “Se não queres que te apontem como corrupto, não dês motivos para tal”.

Vem este artigo a propósito da corrupção nas Câmara Municipais. Os responsáveis autárquicos eleitos e os funcionários das autarquias são justa ou injustamente olhados pela sociedade como intimamente ligados à corrupção, embora na generalidade dos casos pague o justo pelo pecador. Nestas funções, a linha que divide o bem e o mal é frágil e pode rebentar constantemente, umas vezes com, outras sem gravidade. A tentação de proveitos económicos é umas das causas, mas a avidez de poder, muitas vezes dita como quero, posso e mando, é uma razão ainda mais forte do que a primeira. O poder não raras vezes dá mais status do que o dinheiro.

Mas há uma outra tentação que ultrapassa e é ainda mais perigosa dos que as primeiras: As “amizades”. O efeito psicológico de dizer não a alguém das nossas relações é muito pesado, por isso as equipas políticas e aqueles que lhe são chegados são extremamente perigosas porque basta que haja um elemento ou “amigo” exterior com má formação ética e deontológica para funcionar como célula degenerativa que vai contaminar todas as outras. Com “amigos” destes, são preferíveis inimigos porque ao menos não se atrevem a pedir favores.

Não tenho a pretensão de apontar soluções milagrosas mas parece-me que os políticos e funcionários dos serviços por eles dominados deveriam ser regulados com mais pormenor. Penso que deveria ser constituída uma entidade independente, reguladora das actividades políticas com um código ético e deontológico próprio, à qual todos os políticos e certos cargos da função pública deveriam estar obrigados a respeitar, tal como está um jornalista, uma advogado, um engenheiro, um enfermeiro… Entidade essa, que sem necessidade de recorrer ao tribunal tivesse poder para suspender a actividade dos prevaricadores.

Porque afinal, quem não quer ser lobo…

Comentários

Assino por baixo. Acha que engenheiros das Câmaras não assinam projectos particulares?
Jorge Miranda disse…
Acha que os professores não dão explicações particulares?
Anonymous disse…
ehehehe! boa!

Acham que os presidentes de camara não merecem uma medalha, uma estátua, o nome numa rua? Nada disso merecem muito mais, merecem mesmo uma RUA só para eles!
Eu diria mais há profs que dão explicações aos seus alunos da escola oficial.

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