Desenterrar Vizela (III)

Da arqueologia às novas acessibilidades.

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(Continuação)

A História: parte dela já estará no museu da indústria têxtil, papel e moagem e no museu da luta pela conquista do concelho. Depois, o resto fica espalhado pelas ruas e lugares. Vejamos Tagilde. É uma freguesia que tem muito para oferecer em matéria de passado, diria que o futuro da Tagilde é o passado e é nessa perspectiva que a freguesia se deve posicionar dentro do Concelho. Começando pelo Tratado de Tagilde; é preciso mostrá-lo e isso faz-se intervindo urbanisticamente na envolvente à igreja prevenindo o que resta das características “monásticas”do local, dando também destaque ao padrão comemorativo do tratado assinalando-o convenientemente. Invocar e homenagear no mesmo espaço João Gomes de Oliveira Guimarães, historiador, político e Abade de Tagilde. O turista gosta de se sentir perto das coisas, meter mesmo o nariz onde as coisas aconteceram, o turista gosta de fotografar, é preciso por isso dar-lhe coisas bonitas para fotografar. Partindo depois para Arriconha são dois passos e estamos novamente em lugar de História e histórias. Vale bem mostrar que foi naquele lugar que nasceu S. Gonçalo, que não obstante muitas “trapalhadas” arquitectónicas, ainda mantém alguma da sua graça original. Eis uma oportunidade de meter ordem no lugar, reorganizar, reabilitar, preservar e assinalar. Podem ainda contar-se as lendas de S. Gonçalo em forma de roteiro, marcando um percurso pelos lugares de S. Gonçalo; a capela, o penedo e a fonte. Aproveitando o mesmo roteiro, pode levar-se o visitante a S. Paio.
E o processo repete-se por todas as freguesias até chegar à urbe. Em Vizela é preciso literalmente desenterrar o passado. A Lameira é a alma desta cidade, é para ela que fluí todo o ritmo de Vizela. Neste subsolo encontram-se as principais nascentes termais donde brotou toda uma actividade económica que fez Vizela atingir a vida urbana. É também neste subsolo que está muita da História romana de Vizela e das suas termas. É pois neste ponto que volto ao início do artigo e faço referência à colocação a nu desta arqueologia, pois tal é possível, como é possível conciliá-la com a vida quotidiana. Imagino a criação de estruturas subterrâneas com pontos de entrada de luz com painéis de vidro apropriados para permitir a visualização arqueológica aos transeuntes, mas também permitindo a entrada no interior em caso de visitas guiadas. Por outro lado a circulação do trânsito na praça, não tem necessariamente que se fazer do actual modo e podem encontrar-se alternativas capazes de optimizar ambas as vertentes. É uma questão de imaginação e de pensar a cidade.
Vizela tem um núcleo urbano de início de século XX homogéneo, que, quando requalificado é perfeitamente capaz de mostrar uma cidade arejada e agradável de se ver e viver e acima de tudo, uma cidade capaz de provocar interesse. A requalificação deste património é tarefa árdua, não só por envolver muitos custos, mas também por mexer com interesses particulares. Porém impossível não o é, e o exemplo está ao lado, naquilo que foi possível fazer em Guimarães.
A rua Dr. Abílio Torres precisa de ser devolvida a Vizela, às pessoas, e para isso vai ser necessário dar-lhe um só sentido de trânsito. Essa é uma equação antiga a qual começa a ter solução, mas a qual tem que ser severamente apressada não podendo haver receios a mudanças. Esta rua com um único sentido de trânsito passara a ser a principal artéria comercial, alarga os horizontes e faz a cidade mexer. Pense-se no seguinte, o que me leva a visitar a Guimarães, Braga, Porto ou a qualquer cidade maior do que Vizela? É certamente ter o que ver e por onde passear. Sob esse ponto de vista Vizela leva meia hora a ser percorrida porque rapidamente se acaba o que ver. É interessante observar Vizela num sábado de manhã, é um fervilhar de compras e de gente concentrada entre o mercado, parte baixa da Avenida Abade de Tagilde, Praça da República e Fórum. Tudo o resto são franjas com pessoas apressadas funcionando apenas como pontos de passagem e não como pontos onde se está. A forma de inverter este cenário está de facto na rua Dr. Abílio Torres, a qual com um único sentido de trânsito criaria novos estacionamentos, permitiria alargar passeios e assim criava novos fluxos de pessoas dinamizando também as ruas transversais, Rua Ferreira Caldas, Rua das Termas e Rua Joaquim Pinto, as quais reuniriam condições para também elas serem pólos comerciais. Por outro lado, em consequência do novo fluxo de trânsito outras ruas mais periféricas ganhariam novo valor, vejo nesta situação a Rua Pereira Reis.
Com toda a nova dinâmica, as mais valias conseguidas pela valorização dos imóveis e resultados comerciais tornariam mais fácil a requalificação do património urbano da cidade e nessa ocasião, essa mesma requalificação, passaria também a ser interesse generalizado dos proprietários particulares.
Estando este artigo no domínio dos arruamentos, abordo agora as acessibilidades à cidade porque delas também dependem a boa fluidez no interior. Começo por apontar a falta de uma alternativa de circunvalação a nascente, a qual poderia nascer na Rua de Valdinhão em Santo Adrião, em viaduto a desembocar entre a Rua de Lagoas e a Rua de Frades, seguindo depois por esta até ao cruzamento entre a Avenida Abade de Tagilde e a Rua de S. Bento, fazendo-a entrar de forma mais directa na Rua da Portela, por exemplo através de uma rotunda. Por outro lado, Vizela não sendo uma cidade mal servida em acessibilidades, peca por falta de uma boa ligação ao nó de Revinhade na A11. Em minha opinião, o traçado da Rua de Valmonde, ainda no Concelho de Felgueiras, e Rua do Britelo em Santo Adrião deveria ser alargado e redesenhado até à rotunda de Pousada em Santa Eulália, alargando depois a Rua de Sá até à ponte do mesmo nome, para aí nascer um novo arruamento marginal ao Ribeiro de Sá até à rua da Boca. Aí bifurcaria em direcção à circunvalação nascente e à circunvalação poente. Para além de beneficiar Vizela no acesso ao Porto e vice-versa, nasceria uma alternativa mais curta, para quem vindo de Vila Real pela IP4 pudesse sair pela A11 até Revinhade, utilizando a alternativa por Vizela até à VIM e seguindo depois pela A7 rumo a Vila do Conde. Nessa mesma perspectiva, também beneficiaria Felgueiras e Lousada nos acessos à franja litoral de Vila do Conde. Nos dias de hoje, com a generalização dos equipamentos GPS, os condutores seguem pelos caminhos que lhe são indicados sendo estes programados para encontrar o percurso mais curto. Deste modo Vizela “apareceria no mapa” como ponto de passagem e obviamente beneficiando com isso.
(continua)

Comentários

Temos político jovem candidato às autárquicas quem o "levar" terá sorte. Bom post.
1/2Kg de Broa disse…
(fui eu que me enganei duas vezes e apaguei os comentários anteriores)


Não acredito que a Abílio Torres com um só sentido esteja pronta tão cedo e penso também que não seria capaz de gerar mais fluxo de transeuntes. Vizela ainda é pequena demais para competir com outras cidades, penso que só poderá fazê-lo quando descentralizar um pouco os centros de interesse. Quais são os centros de interesse de Vizela? Parque, Jardim, Fórum. Em 5 minutos faz-se a travessia Parque-Fórum. Apenas o S.Bento fica mais longe.
Seria preciso haver investimento forte em Vizela e, para além disso já ser difícil, esse investimento ir para mais de 500 metros de distância da praça central...

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