Desenterrar Vizela (IV)

(Continuação)
Das novas ruas, a novas empresas

O quarto e último trecho deste artigo já foi escrito após as comemorações do décimo aniversário da elevação de Vizela a concelho. Aspecto notável destas comemorações e que realço, foi o empenho da Câmara na publicitação do evento dentro e fora de portas conforme se constatou pelos holofotes dos mais diversos meios de comunicação social de abrangência nacional. Porém, os mesmos meios que mostraram a festa, focaram a nuvem do desemprego que paira sobre este Concelho, a qual atinge o dobro da média nacional.

Sou da opinião que não se deve chorar pelas empresas que encerram. É muito mais proveitoso aplicar as energias a incentivar o aparecimento de novas empresas e novos postos de trabalho. Nesta lógica proponho uma reflexão sobre qual o potencial de Vizela para a criação de novos postos de trabalho.

Começo por tudo quanto foi dito nas três primeiras partes deste artigo. A aposta em equipamentos de carácter cultural, turístico e lazer são uma parte do potencial que esta terra tem. Uma aposta gradual, consistente e sustentada no turismo seria fomentadora de criação de emprego no comércio e nas empresas directamente ligadas ao turismo, como restauração e hotelaria. Já aqui mencionei que Vizela deverá aproveitar a proximidade que tem com Guimarães. Não poucas vezes as unidades hoteleiras da Cidade Berço estão esgotadas, pelo que há que tirar partido disso, mas primeiro têm que ser criados pontos de atractividade. Depois também já aqui foi abordada a reorganização viária e a sua importância no movimento de pessoas que por sua vez traz benefícios ao comércio e por isso também é elemento dinamizador da economia. Por outro lado as vias de acesso principais funcionam como canais de atracção à fixação de empresas.

Vizela à semelhança da região em que se insere vive refém da indústria têxtil e do calçado que de grosso modo são os principais empregadores da região. Há depois alguma indústria gráfica e cartonagem que por sua vez depende da têxtil e do calçado. Do mesmo modo o comércio e serviços dependem da têxtil e do calçado.

Não defendo o abandono da têxtil nem do calçado, mas é prioritário que a indústria vizelense se diversifique para outros sectores e que não sejam dependentes dos anteriores. A dificuldade está em que tipos de empresas criar. A resposta não é fácil porque a mão-de-obra local está formatada para as actividades que na região têm histórico.

A formação é crucial para que a diversificação aconteça. Se olharmos em volta reparamos que a Trofa tem um centro de formação em metalomecânica, Famalicão tem um centro de investigação e formação têxtil conceituadíssimo, Guimarães tem uma escola de engenharia de reputado valor, Santo Tirso entre outros tem uma escola agrícola, Felgueiras tem um centro de formação em calçado e por aí fora. Vizela tem zero em formação profissional para actividades económicas produtivas. É urgente captar a instalação de um centro de formação profissional e investigação ou mesmo um pólo de uma escola superior. A formação e a investigação são a catapulta para novos horizontes e é nesse sentido que Vizela terá que apontar as agulhas.

Há também que considerar as condições para a instalação de novas empresas, desde os terrenos aos acessos, mas também as condições de acolhimento e incentivo das autoridades locais. Um pouco por todo o lado têm nascido incubadoras de empresas e incentivos ao empreendorismo. Vizela não deve ser uma excepção e precisa de começar a preparar um projecto nesta área que permita acolher ideias, fornecer formação em empreendedorismo, liderança e técnicas de gestão, orientar e ajudar na obtenção de crédito ou financiadores de projectos e ajudar com fornecimento de espaços temporários e transitórios a custos reduzidos.

Em suma, tem que existir um conjunto de facilidades e atractivos que permitam a dinamização dos investimentos privados e potenciem as capacidades intelectuais e humanas.
Para finalizar, quero realçar que este conjunto de artigos apenas pretendeu fomentar a discussão sobre o que se pretende que Vizela seja no futuro e atiçar o que é preciso fazer agora para que os objectivos sejam alcançados. As propostas aqui lançadas são ideias, umas minhas, outras que por aí fui colhendo. Claro está que muitas mais e até melhores por aí devem andar. O importante é não menosprezar e saber aproveitar o que de bom cada uma delas tem, venham elas da direita ou da esquerda, de cima ou de baixo.

Comentários

"Sou da opinião que não se deve chorar pelas empresas que encerram."

Sim, depois de esclarecida as razões do encerramento

Sim, depois dos patrões pagarem as indeminizaçoes totais em dívida

Sim, depois de se saber que não há salários em atrazo

Grande parte das falências são fraudulentes, meses depois os patrões abrem noutro lado e estão com boas contas bancárias.

Bom post.

Cumprimentos.

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