As Importações na Balança Comercial

Os discursos políticos de moralização do país para nos arrancar desta crise passam invariavelmente pelo incentivo ás exportações. É certo que as exportações são o melhor indicador da competitividade da economia de um país e por outro lado permitem a entrada de dinheiro, porém o ataque ao equilíbrio da balança comercial deve ser feito em todas as frentes e daí que também tem que ser concretizado pelo lado das importações.

O mais desatento dos portugueses apercebe-se que enquanto consumidores quase tudo o que compramos para o dia a dia é importado, alimentação, têxteis e vestuário, electrodomésticos, gadget's tecnológicos, automóveis, etc, etc... Sem ter posse de dados concretos e objectivos arrisco afirmar que no orçamento familiar de uma família portuguesa no correspondente aos bens transaccionáveis adquiridos apenas uma quota inferior a 10% são de origem nacional. Recordo-me de nos bancos de escola ter um professor de História que nos contava que o nosso país sempre gostou de comprar tudo feito, era assim no nosso tempo e já tinha sido assim que os portugueses "estouraram" as riquezas ganhas com os feitos dos descobrimentos quinhentistas. Hoje passados mais de 20 anos a História continua a ser a mesma. A revista Visão desta semana faz capa com "Islandeses Aproveitam Drama da Bancarrota para Construírem uma Sociedade Melhor", esperemos que nós portugueses saibamos fazer o mesmo no que respeita à economia.

Desde logo no sector primário temos um país que ao longo dos últimos 40 anos se afastou cada vez mais da agricultura, floresta e pescas. Mais do que nunca chegou o momento de inverter esta tendência e olhar estes sectores com os mesmos olhos com que se olha uma qualquer outra empresa do sector secundário ou terciário. Penso que neste processo de reconstrução agrícola e florestal o empenho das autarquias locais é fundamental procedendo de modo análogo aquele que muitas usam na criação de incubadoras de empresas.

Um sector primário com qualidade e competitivo é indispensável para o desenvolvimento da industria alimentar; congelados, bebidas, lacticínios, embalamento, moagem e transformação de cereais, conservas. etc... mas também para outras industrias que tenham como matéria prima produtos naturais ou seus derivados.   Portugal é um país pequeno de recursos limitados que por isso precisa de os aproveitar de forma racional e inteligente, solo, subsolo, clima, recursos marítimos e fluviais. O domínio industrial desde o sector primário até à colocação do produto final na loja permite reduzir as importações e maximizar o valor acrescentado contribuindo para uma maior produtividade do país.

Sem esquecer o mercado externo, Portugal deve começar a priorizar o mercado nacional e tornar-se competitivo dentro de portas, com efeito, o mercado nacional pode mesmo ser um bom laboratório para o lançamento de produtos no mercado internacional, há inclusivamente marcas estrangeiras a fazerem-no no nosso país dada a sua pequena dimensão. Neste contexto as grandes cadeias de distribuição nacionais podem ter um papel importante na ajuda à colocação de produtos portugueses no nosso mercado.

Diminuir o volume de importações significa reduzir despesa e assim deve ser lançada uma estratégia nacional para a sua redução que passa seguramente pelo aproveitamento dos recursos naturais, investigação e desenvolvimento dos mesmos, sua industrialização e transformação, criação do produto final, criação de marcas e sua distribuição.

A terminar e como exemplo ilustrativo a recente escalada dos preços do algodão colocaram o nosso país refém de especuladores e numa  situação de extrema delicadeza uma vez que somos uma país não produtor de algodão. Uma alternativa que se pode mostrar interessante para o conjunto da economia nacional é investigar as potencialidades de outras plantas para a produção de fibras têxteis naturais, soluções essas que até já existem  como a produção de fibras de celulose obtidas da pasta de madeira, matéria prima que abunda no nosso país e da qual somos grandes exportadores.

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