Para uma Tese Há Sempre uma Antítese
Agora é o tempo de Montenegro. Tempo que não se adivinha fácil e a sua permanência no governo deverá estar dependente de não desagradar a gregos nem a troianos, que é como quem diz, ao PS e ao Chega. Será certamente um equilíbrio difícil, mas, se há característica que Montenegro tem demonstrado é resiliência.
Já a elevada votação no Chega obriga a fazer o que deveria ter acontecido há muito tempo, o de tratar este partido como um partido do sistema democrático. As regras da democracia a isso obrigam.
O entendimento do fenómeno Chega vai ter de ser ajustado. Eu não creio que, conforme discurso dominante, os votos no Chega sejam de protesto, ainda que alguns o sejam. Há certamente mais consistência do que aquela que se alega.
No essencial, os portugueses, ainda que o não digam abertamente, são mais conservadores do que liberais. Note-se que isso é diferente de xenofobia ou misoginia. O apego dos portugueses aos partidos de esquerda, não está nas causas relacionadas com os costumes sociais, mas sim, na visão da organização económica do estado. Ora o Chega, em matéria económica remata para o lado em que estiver a baliza, que é como quem diz, adapta-se ao que lhe dá mais votos. Não surpreende, por isso, que o Chega faça questão de ter um programa de direita conservadora em costumes sociais, mas, em questões de economia adote medidas que poderiam ser abraçadas pela esquerda. Por esta razão tornou-se claro o que se suspeitava; que havia uma transferência de votos da esquerda para o Chega, provavelmente mais expressiva do que proveniente de partidos da direita.
Certamente que há votos no Chega que resultam de quem se acantonou na ideia de que tudo o que é política é corrupção. Do mesmo modo haverá certamente votos no Chega que resultam de pensamentos xenófobos e misóginos, mas não creio que seja a estrutura da votação.
A liberdade é muito complexa. Tão direito tem à liberdade uma lebre como uma ave de rapina. O limite da liberdade da lebre está no direito à liberdade da ave de de rapina e, o limite da liberdade da ave de rapina, está no direito à liberdade da lebre. Para uma tese há sempre uma antítese. Quando a antítese prevalece sobre a tese, a antítese passa a tese e a tese torna-se antítese. É esta dinâmica de alternância que assegura o equilíbrio.
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