Portagens Cegas

(Texto remetido por correio electrónico para: Presidência da República, Governo e Assembleia da República)

Aproxima-se rapidamente o dia em que o Governo vai passar a cobrar portagens aos utilizadores das SCUT’s. A medida já de longe anunciada tem gerado imensa e justa contestação nos eixos Viana - Porto e Lousada - Porto. As populações destas regiões às quais se podem juntar as do eixo Ovar – Porto têm o direito à indignação por perderem o direito à mobilidade uma vez que as alternativas que lhes são apresentadas são pura demagogia e negativas do ponto de vista ambiental.

Mas se as medidas se justificam no contexto da crise económica que se vive é bom que se afine a memória que elas nasceram num contexto anterior a esta crise e que por isso a sua correlação está errada. Também é bom lembrar que todas as SCUT’s visadas nasceram como alternativas às saturadas estradas nacionais e como alternativa aos custos das auto-estradas. Por outro lado pode perguntar-se porquê estas estradas e não também outras? O Governo afirma que associa o pagamento das portagens aos indicadores sociais e económicos das regiões, mas que indicadores são estes que os não apresenta? E estão correctos? O Vale do Sousa é umas das regiões mais pobres do país e Vizela que também é amplamente utilizadora do eixo Lousada-Porto tem uma taxa de desemprego que é mais do dobro da média nacional, 24%. Por acaso o Algarve não é uma região suficiente rica para que se introduzam portagens na Via do Infante? Se é pela crise porque não pagarem todos e se introduzem portagens no IP4, IP5, A23, IP6, IP3, A8 na zona metropolitana de Lisboa e na Via do Infante?

 Os movimentos de cidadania, marchas lentas, buzinões e outras formas de manifestação que possam surgir são legítima defesa pelos interesses do país, pois numa época como esta em que os números de desemprego são demasiadamente elevados a introdução das portagens virtuais não só não cria emprego como também vai a curto prazo provocar o desemprego de mais de 1.500 portageiros porque com a obrigatoriedade dos identificadores electrónicos obrigatórios as concessionárias das auto-estradas preparam-se para eliminar as portagens manuais.

As portagens nas SCUT’s servem mais os concessionários das auto-estradas do que o país, note-se que todas as estradas a introduzir portagens têm auto-estradas paralelas com portagens, A7, A1 e A4. A Via do Infante não tem nenhuma paralela a pagar e se calhar é por isso que não faz sentido a introdução de portagens nesta via.

A crise tem que ser paga mas que o seja de forma jurídica e socialmente justa e de modo positivo para o país.

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