Vizela 2038 (parte IV)

(Anterior http://mirandablogue.blogspot.pt/2017/06/vizela-2038-parte-ii_22.html)

Em Vizela nem só as pessoas saem para trabalhar, divertir-se ou ir às compras, as empresas também saem são vários os exemplos de empresas industriais nascidas em Vizela e que para crescer tiveram que  deslocar-se para concelhos vizinhos. O parque industrial é tema desde a criação do concelho de Vizela, mas em 20 anos ainda é ficção, contudo estou convencido que ele não vai ser a solução para travar a deslocalização de empresas industriais até porque agrandes unidades industriais  facilmente ocupam a área de um parque das dimensões  que Vizela é capaz de comportar. Vizela é um concelho pequeno inserido numa região maioritariamente rural mas de grande densidade habitacional e acresce ser atravessado pelo rio Vizela, o que gera dificuldades em fazer coexistir novos terrenos com vocação habitacional, novos terrenos com vocação industrial e compatibilizar com terrenos agrícolas e florestais. Não há muito por onde esticar, ou se sacrificam as áreas agrícolas e florestais ou não haverá muito mais por onde instalar grandes unidades industriais. Eu defendo que Vizela deve preservar com todas as forças as áreas afetas à natureza e à agricultura, deve promover um bom ordenamento do território e do seu parque habitacional, deixá-lo crescer, se necessário em altura precisamente para que não se promova uma ocupação desmesurada de terrenos. Ainda assim a economia tem que funcionar e é necessário que existam boas e sólidas empresas instaladas em Vizela porque hoje, aquilo que aqui temos são meia dúzia delas com presença nacional e internacional forte, o que já é bom mas insuficiente para a empregabilidade da população, e depois existe todo um conjunto de pequenas empresas que subsistem de subcontratação e o comércio que como já falamos vive dias muito débeis.  






Recentemente num programa de televisão um entrevistado que não registei o nome dizia ter esperança no futuro económico de Portugal porque, dizia, há autarquias que já perceberam o papel que têm e concorrem arduamente por investimentos transformando em certa medida o nome dos municípios em marcas verdadeiramente competitivas. Aqui em volta temos o exemplo Santo Tirso e Famalicão que têm em curso programas de marketing para promoção de investimento industrial. Também recentemente a revista Visão fez referência ao Fundão que nos últimos anos tem lutado, e já com bons resultados, para atrair investimento em empresas da área tecnológica em complemento aos setores tradicionais. São os municípios mais pequenos de quarta e quinta linha que têm que trabalhar mais afincadamente para conseguir resultados em investimento, porque os concelhos de primeira e segunda linha já captam empresas por natureza.  

Vizela não tem características para seduzir a instalação de empresas industriais e por isso tem que apostar noutro segmento e deve fazer-se valer dos seus atributos, estar perto do aeroporto Francisco Sá Carneiro, estar ligado a ele por via férrea, comboio e metro, ter ligações por autoestrada ao Porto e a Braga, estando a 50 minutos da primeira e a 30 da segunda. Braga que é hoje um centro da indústria de software, que tem um grande centro de desenvolvimento tecnológico para eletrónica automóvel da Bosch. Está também a 10 minutos de Guimarães que tem uma escola de engenharia com áreas tecnológicas e que também tem o Avepark - Parque de Ciência e Tecnologia. A meu ver a lógica é orientar Vizela para que venha a ser um importante centro de empresas de caracter tecnológico, não se trata de esquecer os setores tradicionais, mas de encaminhar o futuro nesse sentido. As empresas de cariz tecnológico, a menos que evoluam para grandes unidades industriais,  têm a particularidade poder ser instaladas em áreas pequenas e ainda assim atingir grandes volumes de negócio e grandes mais valias... Uma Vizela ValleyHá mais municípios nesta corrida mas creio haver ainda lugar e Vizela tem bons trunfos e até já poderá ter um edifício com boas condições para o arranque do projeto, o devoluto Instituto Silva Monteiro (metendo a foice em ceara alheia). Aqui, ou em outro lugar, poderia ser construído um centro de formação em tecnologia e ainda em simultâneo reservar espaço para incubadora de empresas que daí possam começar. Pegando no exemplo do Fundão, a autarquia criou uma academia de programação que é no essencial a base para muito do que hoje se cria. Há 10 anos atrás, estudar e implementar ensaios para soluções tecnológicas poderia ser algo muito dispendioso, mas hoje com o brutal crescimento de hardware e microprocessadores "open source" o custo pode ser ridiculamente baixo. 

Mas como disse, investir num futuro tecnológico não significa esquecer setores tradicionais, até porque estes também podem vir a benéficiar da existência de um centro de tecnologia vizinho. Assim  deveria ser criado um gabinete dedicado ao estudo da economia local, à sua promoção e apoio ao investidor. Um gabinete desburocratizado de fácil acesso e sem custos, que auxilie os interessados na elaboração de planos de negócio, que ajude no encaminhamento de financiamentoque facilite o acesso a informação que dificilmente se poderia obter de forma individual e que ceda ou alugue espaços de trabalho, coworking, a baixo custo. 

Note-se que Vizela deverá ter uma população em idade ativa que ronda as 12.000 pessoas, empregar toda esta população significa ter necessidade de  24 empresas com 500 funcionários e aqui só há uma empresa com estas características. Estes números permitem ter perceção das necessidades de criação e manutenção de emprego no município. É claro que uma parte da população de Vizela trabalha fora, e na verdade é isso que diferencia Vizela das terras do interior, é que na falta de emprego dentro de portas, o facto de ter vizinhos bastante industrializados, permite à população  conseguir emprego com alguma facilidade nas vizinhanças. Contudo é preciso pensar na sustentabilidade de Vizela e também na atracão de pessoas de fora para cá trabalhar, ou seja fazer funcionar as dinâmicas naturais de uma sociedade moderna. Para contrapor seria interessante saber, não sei se esses dados existem se estão trabalhados, quantos postos de trabalho existem atualmente no concelho de Vizela e assim conheceríamos as reais necessidades. Seria matéria de trabalho para o gabinete de apoio ao investimento, a caracterização e estatística do tecido empresarial local, o cálculo dos postos de trabalho existentes em todo o concelho, qual a população ativa, a sua caracterização em termos de formação, os seus hábitos de consumo, quantos restaurantes existem por habitante em Vizela, quantos pronto a vestir, quantos talhos, quantos supermercados, quantas drogarias... Tudo isso é informação para ser trabalhada numa escola de negócios local.

(Continua: http://mirandablogue.blogspot.pt/2017/06/vizela-2038-ultima-parte.html)

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