Vizela 2038 (última parte)

Um desafio último é o de que o próximo presidente de câmara eleito, no dia seguinte às eleições convide os opositores a sentarem-se à mesa para elaboração de um plano estratégico a 20 anos 

----
(anterior: http://mirandablogue.blogspot.pt/2017/06/vizela-2038-parte-iv.html)

O centro da cidade de Vizela, precisa de uma cara lavada, precisa de vida, enfim, precisa de ser arejado. O centro de Vizela possui conjuntos de casas de fim do século XIX, princípios do século XX que são bonitos e que representam o tempo do grande crescimento de Vizela como estância de férias e veraneio termal. Essa história deve ser trazida à tona começando pela recuperação das fachadas. Os imóveis são privados e a sua reabilitação é responsabilidade primeira dos seus proprietários, contudo quando o desinteresse impera por falta de rendimento as entidades autárquicas tem o dever de mobilizar esforços de reanimação, até porque o interesse é geral, é da comunidade e da autarquia. O perigo de uma pequena cidade como Vizela é, o de mantendo-se parada, vai sendo sufocada dia após dia pelas cidades vizinhas, em especial as de maior dimensão. Deixa de haver renovação de comércio, deixa de haver renovação urbana porque todos os interesses privados se deslocam no sentido do movimento das pessoas, para fora. A CMV tem por isso a obrigação de ser um motor para inverter o caminho e no que à reabilitação do centro urbano diz respeito, deve ser colocado em marcha um programa que, por exemplo, permita aos proprietários aceder  a um sistema de compras em grupo de materiais de construção e serviços, eventualmente colaborando também com logística própria e oferta de serviços de arquitetura e engenharia civil do próprio município de maneira a reduzir os custos de recuperação e assim cativar os proprietários a fazê-lo.  


Depois é fundamental que haja brio, brio numa cidade arranjada e limpa. Infelizmente Vizela tem vindo a tornar-se uma cidade suja e mal tratada, são os jardins descuidados, mas mais grave ainda é que não há hoje em dia lavagem de ruas! Reparem nas "pedras da calçada" carregadas de musgo negro porque não veem pressão de água há anos, reparem nos excrementos de pássaro que se acumulam no chão em algumas zonas, entre as quais a rua Joaquim Pinto! Não adianta reabilitar se não  houver depois manutenção. Parte dos passeios do centro de Vizela foram renovados ainda há poucos anos e para o bem ou para o mal, na altura foi selecionada a sua pavimentação em minicubos de granito amarelo, um material que combina com a cidade, mas também um material que exige lavagens frequentes com pressão de água e retoques de juntas para que se mantenha sempre com bom aspeto, de outro modo ficam os passeios enegrecidos. Não quero particularizar, mas há coisas que não é preciso ser o poder político a tratar ou ordenar, há aspetos que são da responsabilidade dos profissionais da autarquia e nota-se uma certa desorientação, uma falta de saber como atuar, talvez a expressão seja a de que "falta ordem na casa". Claro que em último lugar compete ao poder político, porque também é para isso que foi eleito, exigir que a ordem exista, exigir que os seus profissionais tenham e sejam adequadamente formados para tarefas básicas, saber como proceder perante um cidadão que desrespeite, por exemplo, o regulamento de uso das vias pedonais  e lá circule de motorizada em frente aos funcionários camarários, ensinar que para trabalhos em altura devem ser usadas escadas e não trepar para o tejadilho dos veículos camarários, que para cortar ruas em eventos públicos se usam gradeamentos e não devem ser usadas viaturas camarárias atravessadas nas estradas para o mesmo efeito...  

A sala de visitas de Vizela é  Praça de Republica em conjunto com o Jardim Manuel Faria que acusam o passar dos anos e já precisam de receber um toque de modernidade que invoque as origens romanas, que homenageie  o tempo de Vizela como estância de veraneio escolhida pela sociedade do Porto, por personagens das artes, como Camilo Castelo Branco e Manoel Pedro Guimaraens e que marque também referência à presença habitual de ingleses. E por falar em ingleses talvez seja oportuno criar no centro de Vizela uma referência ao Tratado de Tagilde, primeira aliança bilateral entre Portugal e Inglaterra, referências também à industria do Papel que em Vizela teve a primeira fábrica no mundo a produzir papel com o que mais se aproxima da atual celulose, a São Gonçalo nascido em Tagilde, à família Moreira de Sá berço de empreendedores, personagens das letras, da música, em suma, mostrar a sua história porque é desta história, da cultura das gentes que se faz o turismo dos dias de hoje. 

Estando pois já a falar de turismo eu não me resigno à ideia de que Vizela não tem potencial turístico porque não tem monumentos! O que não há "inventa-se" desde que seja na lógica da cultura local e por isso é que eu falo em mostrar património imaterial, a história é o património e tem que ser mostrado fazendo-se  referências, criando memoriais, assinalando locais, explicando-a. Depois os turistas querem ver vida, querem ver pessoas, hábitos, esplanadas, querem ver cor e querem ver natureza e é essa natureza que nos leva ao rio Vizela e ao ribeiro de Sá, aos corredores que já referi. Também nos leva ao santuário de São Bento que é o melhor exemplo do que foi bem feito em ambiente e turismo nos últimos anos. O que hoje vemos em São Bento é equivalente ao que Vizela viu há quase 140 anos com o Parque das Termas, é um legado para as futuras gerações. Contudo os legados têm que ser cuidados e renovados pelos vindouros sob pena de morrerem e é assim que a nossa geração tem que olhar para o Parque das Termas, há já alguns anos que o parque exige ser diagnosticado por profissionais de botânica e arquitetos paisagistas, as árvores doentes precisam de ser identificadas, possivelmente tratadas, é necessário renová-las, ou seja prever a sua morte e ir fazendo novas plantações para que as mesmas venham a ser substituídas, incluir nova vegetação rasteira, creio ser tempo de renovar a zona que ainda permanece com eucaliptos fazendo o parque crescer para o morro. Pode ser polémico, mas deve olhar-se para o lago e pensar qual o seu objetivo, em que é que ele contribui para que o parque seja mais agradável, qual a manutenção que exige e ponderar se faz sentido manter a sua existência. Já no decorrer da construção do parque houve especialistas  que questionaram a inutilidade do lago, dada a existência do rio. Normalmente os lagos são construídos nos parques para ajudar ao abaixamento da temperatura ambiente e criar humidade no ar, ora no Parque das Termas essa função já é feita pelo rio enquanto elemento natural. A questão a ser lançada será pois, não existindo o lago, o que se pode fazer em sua substituição? Podem acontecer surpresas.  

Ainda em torno do parque há outro assunto que mais dia menos dia, deverá vir à tona, a CMV não é proprietária do terreno, apenas conseguiu no início do concelho de Vizela um acordo por tempo limitado para usufruto do espaço, uma solução transitória para colocar o parque ao serviço da comunidade mas vai sendo tempo de encontrar solução definitiva e estou convencido que a solução passa pela aquisição do espaço. A forma menos onerosa de o fazer talvez seja propor a permuta de terrenos entre as partes, se calhar para a Companhia dos Banhos talvez seja mais aliciente possuir terrenos, com menor área mas com viabilidade de construção ou, por exemplo, tornar-se proprietária do parque contiguo no qual existe exploração comercial. 
Ainda sobre turismo reforço a necessidade de materializar história e cultura local, não esconder definitivamente o passado industrial, mostrá-lo, aproveitar e invocar os espaços devolutos. Criar um museu da memória vizelense, talvez um desafio, delegar essa tarefa da conceção, idealização e angariação de espólio à Fundação Jorge Antunes. Finalmente, aquilo de que se vem falando ultimamente, criar um grande auditório capaz de albergar eventos artísticos à medida de Vizela. A solução não é de maneira nenhuma replicar pequenos auditórios, para isso Vizela já tem pelo menos 2 

Se Vizela não tem monumentos tem História e histórias para serem contadas e mostradas e tem também uma localização fantástica, implantada numa linha de comboio que une o Porto a Guimarães e que se liga ao aeroporto Francisco Sá Carneiro por metro. É incrível mas é possível chegar a Vizela vindo de qualquer parte do mundo de mala na mão. O que falta? Trabalho de casa para mostrar aos turistas e promoção, muita promoçãoÉ curioso que por estes dias a CP alterou os horários de comboios na linha de Guimarães e uma das justificações que usou para o fazer relaciona-se com o aumento da procura do serviço por turistas que se deslocam de comboio do Porto para Guimarães. Pois é, não faltam turistas aqui do lado.  

A promoção turística de Vizela deve ser dirigida a quem escolhe Guimarães e Porto para local de férias e convidá-los passar um dia que seja das suas férias em Vizela, basta por isso criar roteiro e entretenimento para um dia, mostrar-lhes que podem vir até cá sem ter que alugar um carro, usando exclusivamente o comboio e que dentro do concelho de Vizela se podem deslocar nos miniautocarros do serviço coletivo de transportes, ou andar de bicicleta por todo o concelho através da ecovia, convidá-los à "mesa" onde o enviado do rei de Inglaterra se sentou com o rei de Portugal para firmar uma aliança de cooperação militar, mostrar o berço de São Gonçalo e a fonte onde partia os cântaros às moças casadouras, mostrar o alto castrejo da senhora da Tocha e como esses povos se defendiam das ameaças, fazê-los recuar no tempo e brincar à nobreza na casa de Sá, dar-lhes banho na lameira, sentá-los numa explanada a comer bolo com sardinhas ou uma iguaria com broa de milho, fazer um trilho até São Bento das Pêras e mostrar o intenso Vale do Vizela até às fraldas do Atlântico, deixar uma dedicatória escrita em papel similar ao que se fazia na fábrica dos Moreira de Sá... Ao fim do dia deixa-los partir com boas memórias que certamente vão partilhar com os amigos através das redes sociais e Vizela ficará na expectativa de que os amigos também queiram vir ao Porto ou a Guimarães e escolham Vizela como base de estadia para as suas aventuras de descoberta. 

Em 7 páginas resume-se trabalho para 20 anos, sinceramente espero que estas reflexões possam também vir a ser reflexões do próximo presidente da CMV e da sua equipe. Um desafio último é o de que o próximo presidente de câmara eleito, no dia seguinte às eleições convide os opositores a sentarem-se à mesa para elaboração de um plano estratégico a 20 anos e que o mesmo seja depois afixado no "memoboard" do gabinete da presidência e que lá permaneça durante os 20 anos de vigência para seja perseguido afincadamente, no seu mandato e nos mandatos vindouros e que daqui a 20 anos Vizela seja uma terra com indústria tecnológicaseja frequentada por gente de fora que cá venha aprender a fazer tecnologia e que cá venha ensinar também, uma terra que tenha orgulhoque seja conhecedora do seu passado e que o saiba contar também

Comentários

Mensagens populares deste blogue

A Falência Técnica do Estado

Torre Eiffel

Um Robles na Segurança Social