Espanha II - Urbanismo



Neste blog tenho-me debruçado sobre aspectos da realidade espanhola, não por ser um profundo conhecedor da mesma, mas antes porque me interesso por perceber quais os ingredientes para o sucesso económico do país vizinho. Assim nos últimos tempos, faz parte da minha rotina dar uma espreitadela na imprensa espanhola para “assistir” ao seu quotidiano. Por outro lado, nos últimos dois anos desloquei-me algumas vezes a Espanha, tanto em trabalho, como em lazer, e é sobretudo o que vi no aspecto urbano que aqui quero partilhar.

Posso dizer com algum conforto que conheço a cidade de Vigo, na Galiza e a pequena Ribadesella nas Astúrias, porque em ambas passei alguns dias inteiramente dedicados à sua descoberta, mas também conheço Baiona, Tui, La Guardia e alguma coisa em Lugo, Málaga e Santiago de Compostela. Também visitei rapidamente algumas pequenas cidades nas Astúrias. Fugazmente passei em Sevilha, Gijón, Avilés e Oviedo. Em todas elas o denominador comum que encontrei foi a expressão minimalista no que diz respeito aos arranjos dos espaços urbanos. Este minimalismo de que falo não significa desleixo mas antes tratar e reconstruir o que é apenas essencial à vida urbana, e fazê-lo da forma mais simples sem querer mostrar mais do que aquilo que os espaços são na realidade.

Um exemplo relativamente conhecido, a praia de Samil, em Vigo. Não tem absolutamente nada de “especial”, é do mais simples que há. Apenas tem um bom espaço verde e umas modestas piscinas. No entanto, Samil fica a abarrotar de portugueses e espanhóis no verão. Vigo ou Ribadesella têm centros bem cuidados, mas não luxuosamente arranjados. As zonas menos centrais já se apresentam menos cuidadas (por vezes mesmo menosprezadas, o que aí sim é um mau exemplo). Resumindo, apostam absolutamente no essencial, são mais objectivos, e parece-me que assim conseguem poupar muitos recursos, entretanto canalizados para o desenvolvimento de infra-estruturas essenciais ao desenvolvimento, como estradas, equipamento ferroviários, redes de aeroportos e apoios a sectores como as pescas e agricultura.

A realidade portuguesa é diferente, as cidades são mais luxuosamente tratadas e investe-se em programas como o PÓLIS no qual milhões e milhões de Euros foram canalizados para os arranjos urbanísticos com o objectivo de reordenar as cidades e cativar o turismo. Mas terão sido as contas do retorno feitas? Serão investimentos que se traduzem em mais valias económicas suficientemente capazes de justificar o investimento? O mesmo ordenamento não poderia ter sido feito de modo mais modesto? São questões pertinentes para as quais estou convencido de que as respostas teriam poupado muitos milhões de euros, talvez suficientes para ajudar a investir em projectos mais rentáveis.
Recentemente, quase em bloco, as autarquias repudiaram a nova lei das Finanças Locais da autoria do governo. De antemão sabe-se que estas gostam especialmente de obras para “inglês ver”, obras essas que absorvem uma fatia muito significativa dos seus orçamentos. Por isso pergunto se na realidade as câmaras municipais não conseguem viver com um orçamento mais magro? Estou convencido de que sim, negociando melhor as adjudicações, obrigando nos projectos os executantes das obras a seguirem métodos de trabalho mais eficientes, questionando os projectistas sobre os materiais a aplicar e a absoluta necessidade dos mesmos e mais radicalmente questionando a verdadeira utilidade e prioridade do investimento. Em suma, fazer uma verdadeira análise da relação custo/benefício.

Comentários

OVIZELENSE disse…
Belissimo post. Inteiramente de acordo.
O Chaparro disse…
concordo. boa semana
Resgate Salta disse…
Mais uma prova que de Espanha podem não vir bons ventos, nem bons casamentos, mas podem vir bons exemplos.

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