Feira do Milho e da Broa
Há algumas semanas a oposição política vizelense apresentou a proposta para a colocação a nú das estruturas romanas soterradas na Praça da República. A proposta rejeitada pela Câmara Municipal de Vizela foi desconsiderada. São porém posições políticas que não conseguem alcançar o propósito de tal proposta.
Saiba-se que não tenho posição nesta “praça” e que o meu conhecimento desta proposta aconteceu pelos jornais. Fiquei porém satisfeito com tal vontade de dar a conhecer as estruturas romanas. Num texto de 14 de Julho de 1999, colocado num site então designado «Oculis Calidarum» do qual ainda existem “resíduos” em
http://br.geocities.com/caldasdevizela/, e mais tarde transcrito para um outro em
http://homepage.oninet.pt/130mrj/vizela/cidagua.htm, escrevi:
«A um canto fica a Bica Quente, que segundo a tradição, quem lá meter o dedo fica em Vizela para sempre, perdendo a oportunidade de se valorizar como "logótipo" da cidade. A par disto a Praça está completamente descaracterizada. O cimento contrasta com a sua alcunha de Lameira. É também sabido que neste local se centrava a actividade romana, por aqui se encontrar um grande número de fontes de água quente. A título de exemplo aponto a rua dos Caquinhos em Guimarães, onde para preservar umas condutas subterrâneas, se colocaram placas transparentes, de maneira que quem lá passa possa aprecie o interior das condutas, sem que ao mesmo tempo as danifique.»
Vizela está morta, falta-lhe vida própria e excluindo um ou dois meses de verão nas ruas desta cidade, ou há reformados, ou desempregados. Por outro lado o turismo em Vizela resume-se ao programa Turismo Sénior do Inatel, muito menos há gente das cidades vizinhas a passear aqui. Isto é sério e as poucas empresas que restam não têm capacidade de expansão para absorver tal cenário.
Estou convencido de que a aposta no turismo não é a panaceia para os problemas de Vizela, será no entanto um bom remédio para desinfectar a ferida e muito melhor para auto-estima e ego dos vizelenses. Em dez anos de emancipação apenas consigo encontrar um passo decidido rumo a esse propósito; o investimento em S. Bento das Peras; no entanto este de forma isolada não vale nada e economicamente para a cidade é o mesmo que zero. À parte o turismo de areia e bananeiras, este pensa-se como um todo; História, Cultura, Gastronomia, Ambiente e Recursos Naturais, Diversão e Actividades Económicas. Que seja do conhecimento público esse trabalho está por fazer, já não digo a sua colocação no terreno, digo a criação da estratégia e a definição de objectivos.
Nesta época natalícia que findou foi montada, no Jardim Manuel Faria, uma tenda com produtos artesanais e a mesma incluída num roteiro turístico. Segundo os jornais, os artesãos lá representados não esconderam alguma frustração pela pouca receptividade. Entre outras falhas na montagem do evento faço referência a duas que conduziram ao insucesso no que diz respeito à vinda de forasteiros. A mostra não tinha dimensão nem genuinidade. Os produtos expostos são os mesmos que se podem encontrar em qualquer região do país, pois de intrínseco à cultura da terra nada se podia ver e mais importante do que isso, se a mensagem chegou fora, os potenciais visitantes nela não esperavam encontrar nada que já não tivessem na sua terra. Porque é que todos os anos a Feira do Fumeiro em Montalegre arrasta meio país, ou as feiras de artesanato e gastronomia de Vila do Conde são uma referência nacional? A primeira pela genuinidade e as segundas pela dimensão.
No que diz respeito a genuinidade, as noites de desfolhada que todos os anos se realizam na Praça da República, são um bom exemplo, mas acontecem sem contexto e por isso não são convenientemente exploradas. Imagine-se o evento integrado numa «Feira do Milho e da Broa» em que o elemento central fosse todo o processo produtivo da broa de milho, desde os campos ao forno explorando depois a variante do bolo com sardinhas. Traga-se também a Feira do Burro que se realiza em Tagilde e já temos a componente da moagem. Depois poder-se-ia explorar todo um outro conjunto de temas satélites que combinam com a broa de milho à mesa, o vinho verde e a gastronomia. O artesanato mais intrinsecamente ligado à lavoura teria aqui lugar e assim se incluía a cestaria e homenageavam-se os extintos, mas afamados, Arados de Vizela. O contexto de um evento deste género teria força suficiente para atrair multidões e economicamente seria produtivo. Isto faz sentido porque estamos inseridos numa região com tradições na broa de milho e bolo com sardinhas.
(Continua)
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